_A garota, O sonho, A imensidão_
Elenilton da Cunha Galvão
Elenilton da Cunha Galvão
21/10/2013
Acordou
de sobressalto com o coração acelerado, no quarto escuro tateou o celular,
clicou em um dos botões, arregalou os olhos: "três e meia, minha nossa!!!
O que houve?!", em pouco tempo as imagens apareceram em flash e trouxeram
consigo uma dor no estômago que para ela era algo novo, "água"
(pensou), levantou-se devagar calçou o velho chinelo e o arrastou por entre a
porta que rangeu ao abrir.
-
sic... Ruidosamente a torneira deixou vazar a água que lhe apetecia. Bebeu um
longo gole de olhos fechados e ali permaneceu quando uma grande nebulosa lhe
surgiu à mente, uma espécie de sobreconsciência se impôs à sua e naquele
instante seu corpo e tampouco sua mente lhe obedecia.
...
Espaço profundo ... Escuro ....
Chamava-se
o impronunciável, não era mais tato e nem carne e nem olhos, todavia, enxergava
tudo pois estava em condição de ultra luz, as imagens em nada estavam parecidas
ao que seus primitivos olhos acostumara-se a ver, sentia-se um tudo e um
nada,como se o cosmos e o caos lhe corroessem as entranhas. Daquela maneira
sentada sobre o abismo da imensidão podia sentir seus iguais sentados ao seu
lado, sentia-se bem e sentia-se infinita e limitada.
Em
cada lado seu gravitada esferas perfeitas e dentro delas milhões e milhões de
galáxias, espantou-se, a imagem era assombrosamente eterna apesar de lhe
parecer tão restrita e frágil, em sua mente ouviu trilhões de ruídos e sabia
que vinham dali, eram seus ruídos!!! Mas como ??? !!! Pareceu que havia
pensado, mas não pensou.
Uma
esfera era o contraste da outra e lhe pareciam profundas ainda que se você
olhasse diretamente era como círculos pintados, podia-se quase tocar naqueles
frágeis desenhos de criança. As duas eram o mesmo espaço e o mesmo tempo,
conexos e profundamente distantes, soube que não haveria modo de desliga-las e
que sua própria existência era o existir delas.
Aquietou-se
e se concentrou nos ruídos, ouvia todos e nenhum ao mesmo tempo e como eram suas
preces aqueles milhões de sons desconexos, distintamente, eram também o ruído
de outros seres que habitavam dentro daquelas pequeninas esferas que lhe
gravitavam, ela sabia, sempre soube.
Um
leve momento na eternidade e conseguiu enxergar mesmo sabendo que não tinha
olhos, ela era a visão, que ligada ao seu estado não biológico era também a
própria consciência. Daqueles sons profundos, naquele mísero instante que em si
debruçava-se, um lhe chamou atenção: uma garota bebendo água docemente, e ela
sentia o paladar liquido da garota e aquilo foi bom.
Tentou
olhar diretamente para aquela criatura, e quanto mais focava e mais perto
chegava daquele misero ser em uma mísera galáxia em uma mísera esfera, mais
escuro ficava, cada vez mais e mais... E todos os ruídos eram agora um grande
chiado e na busca de se reconhecer focou naquele gole de água, sentiu então o
corpo da garota e tudo sumiu...
....
A garota abriu os olhos ... Não se lembrava...
Deixou
o copo onde estava ...
....
Abriu
a porta da cozinha....
...
observou o quintal, deitou-se na grama e ali permaneceu olhando a imensidão do
universo ...
...