segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Do instante à Eternidade

_A garota, O sonho, A imensidão_



Elenilton da Cunha Galvão
21/10/2013




Acordou de sobressalto com o coração acelerado, no quarto escuro tateou o celular, clicou em um dos botões, arregalou os olhos: "três e meia, minha nossa!!! O que houve?!", em pouco tempo as imagens apareceram em flash e trouxeram consigo uma dor no estômago que para ela era algo novo, "água" (pensou), levantou-se devagar calçou o velho chinelo e o arrastou por entre a porta que rangeu ao abrir.

- sic... Ruidosamente a torneira deixou vazar a água que lhe apetecia. Bebeu um longo gole de olhos fechados e ali permaneceu quando uma grande nebulosa lhe surgiu à mente, uma espécie de sobreconsciência se impôs à sua e naquele instante seu corpo e tampouco sua mente lhe obedecia.

... Espaço profundo ... Escuro ....

Chamava-se o impronunciável, não era mais tato e nem carne e nem olhos, todavia, enxergava tudo pois estava em condição de ultra luz, as imagens em nada estavam parecidas ao que seus primitivos olhos acostumara-se a ver, sentia-se um tudo e um nada,como se o cosmos e o caos lhe corroessem as entranhas. Daquela maneira sentada sobre o abismo da imensidão podia sentir seus iguais sentados ao seu lado, sentia-se bem e sentia-se infinita e limitada.

Em cada lado seu gravitada esferas perfeitas e dentro delas milhões e milhões de galáxias, espantou-se, a imagem era assombrosamente eterna apesar de lhe parecer tão restrita e frágil, em sua mente ouviu trilhões de ruídos e sabia que vinham dali, eram seus ruídos!!! Mas como ??? !!! Pareceu que havia pensado, mas não pensou.

Uma esfera era o contraste da outra e lhe pareciam profundas ainda que se você olhasse diretamente era como círculos pintados, podia-se quase tocar naqueles frágeis desenhos de criança. As duas eram o mesmo espaço e o mesmo tempo, conexos e profundamente distantes, soube que não haveria modo de desliga-las e que sua própria existência era o existir delas.

Aquietou-se e se concentrou nos ruídos, ouvia todos e nenhum ao mesmo tempo e como eram suas preces aqueles milhões de sons desconexos, distintamente, eram também o ruído de outros seres que habitavam dentro daquelas pequeninas esferas que lhe gravitavam, ela sabia, sempre soube.

Um leve momento na eternidade e conseguiu enxergar mesmo sabendo que não tinha olhos, ela era a visão, que ligada ao seu estado não biológico era também a própria consciência. Daqueles sons profundos, naquele mísero instante que em si debruçava-se, um lhe chamou atenção: uma garota bebendo água docemente, e ela sentia o paladar liquido da garota e aquilo foi bom.

Tentou olhar diretamente para aquela criatura, e quanto mais focava e mais perto chegava daquele misero ser em uma mísera galáxia em uma mísera esfera, mais escuro ficava, cada vez mais e mais... E todos os ruídos eram agora um grande chiado e na busca de se reconhecer focou naquele gole de água, sentiu então o corpo da garota e tudo sumiu...

.... A garota abriu os olhos ... Não se lembrava...



Deixou o copo onde estava ...



....



Abriu a porta da cozinha....
... observou o quintal, deitou-se na grama e ali permaneceu olhando a imensidão do universo ...





...