terça-feira, 18 de março de 2014

"Bobageômetro", como identificar falácias em pesquisas e debates.


Há alguns sinais de alerta que sugerem engano ou mentiras nos argumentos de uma pessoa. Baseado no livro de Carl Sagan, O Mundo Assombrado pelos Demônios, a seguir são sugeridos algumas ferramentas para testar argumentos e detectar argumentos falaciosos ou fraudulentos algumas perguntas e dicas:


 - Sempre que possível, deve haver confirmação independente dos fatos.

 - Incentivar debate substantivo sobre as evidências por proponentes conhecedores de todos os pontos de vista.

- Argumentos de autoridade têm pouco peso (em ciência não há "autoridades").

- Teste mais de uma hipótese - não simplesmente aceite a primeira ideia que chamou a sua atenção.

- Tente não ficar demasiado ligado a uma hipótese só porque é sua.

- Quantificar, sempre que possível.

- Se há uma cadeia de argumentos cada elo da cadeia deve ser trabalhado e estudado.

- Navalha de Occam: se existem duas hipóteses que explicam os dados igualmente bem escolha a mais simples.

- Pergunte se a hipótese pode, pelo menos em princípio, ser falsificada (montada para ser falsa por algum teste inequívoco). Em outras palavras, é testável? Outras pessoas podem duplicar a experiência e obter o mesmo resultado?


Outras questões são:

  • Realizar experimentos de controle - especialmente o "duplo cego" experimento onde a pessoa a tomar medidas não está ciente dos assuntos de teste e controle.
  • Verifique a existência de fatores de confusão - separar as variáveis.




Falácias comuns da lógica e da retórica:


  • Ad hominem: expressão latina que significa “ao homem”. Acontece quando atacamos a pessoa que fala e não o argumento. Exemplo: “Você não vai acreditar na palavra de um negro, não é?!” ou “Fernando Henrique é um péssimo presidente. Também, o que você queria de um sociólogo?!”.
  • Argumentum ad verecundiam: tipo de argumento que se baseia na autoridade de quem fala e não na lógica. Exemplo: “Quem me disse que beber água faz mal foi o Sr.Luís, deputado federal, então só pode ser verdade.” ou “Se o pajé mandou não dar remédios às crianças e esperar os espíritos curarem elas, então é certo. O pajé não erra.”
  • Argumento de conseqüências adversas tipo de argumento que tenta validar uma afirmação dizendo que seria impossível se ela não existisse.Exemplo: “Se não existisse um Deus tomando conta de tudo, isso aqui viraria uma bagunça!” ou “Se não matarmos esse bandido, os outros terão certeza da impunidade e a criminalidade vai aumentar muito!”.
  • Apelo à ignorância (ausência de evidência não é evidência de ausência): a afirmação de que qualquer coisa que não se provou ser falsa, é verdadeira, e vice-versa. Exemplo: “Ele não provou que é homem, então ele é homossexual.” ou “Ninguém conseguiu provar que não existe imortalidade, então, na verdade, somos todos imortais.”
  • Alegação especial (geralmente referindo-se a vontade de Deus): afirmação que recorre a conceitos que seriam inatingíveis para as pessoas comuns (freqüentemente usado para salvar um argumento em profundas dificuldades teóricas). Exemplo: “- Não consigo entender a reencarnação, porque há muito mais gente viva hoje, do que há 10.000 anos. / – Isso é porque você não entende a doutrina dos espíritos.” ou “Você não compreende a magia porque não é um iluminado.”
  • Petição de princípio (também chamada de Supor a Resposta), é quando se faz uma pergunta direcionada para obter determinada resposta específica. Exemplo: “Você não acha que essa estória é falsa?” ou “No meu lugar você não faria a mesma coisa?”
  • Seleção Observacional (também chamada de enumeração das circunstâncias favoráveis), Francis Bacon definiu essa falácia como “Contar os acertos e esquecer os fracassos.” Exemplo: “O brasileiro é bom de plano econômico, veja quanto tempo o Real deu certo.” (Esqueceu de mencionar os casos em que não durou nem uma semana, como cruzado, cruzado II, cruzeiro real etc.)
  • Estatísticas de números pequenos (como tirar conclusões a partir de tamanhos de amostra inadequada): falácia parecida com a anterior, mas só que usa números estatísticos de forma errônea. Exemplo: “Dizem que no planeta Terra, em cada cinco habitantes, um é chinês. Que estupidez! Conheço mais de cem pessoas e nenhuma delas é chinesa!”
  • Incompreensão a natureza das estatísticas (Presidente Eisenhower expressando espanto e alarme ao descobrir que metade de todos os americanos tem inteligência abaixo da média!) : é quando se pega uma estatística e se interpreta livremente, sem compromisso com a realidade. Incoerência tomar certa atitude para certos casos, e outra para outros.
  • Inconsistência (por exemplo, os gastos militares com base em cenários pior caso, mas as projeções científicas sobre perigos ambientais parcimoniosamente ignorados porque eles não são "provado").
  • Non sequitur - "não se segue: expressão latina que significa “não se segue”. Dizer uma coisa que não tem nada a ver com outra. Exemplo: “O América vai ganhar esse jogo por que Deus é grande!” ou “Nosso país é muito rico, por isso temos inflação.”  
  • Post hoc, ergo propter hoc - confusão de causa e efeito: expressão latina que significa “se aconteceu depois de um fato, foi causado por ele”. Exemplo: “Você notou que o El Niño só fez aquele estrago todo depois que o Fernando Henrique se elegeu. Esse cara causa todos os males.” ou “Depois que você disse que estava tudo errado, tudo começou a dar errado na minha vida.”
  • Pergunta sem sentido:  pergunta que traz em si uma incoerência. Exemplo: “O que aconteceria se uma força irresistível atuasse sobre um corpo imóvel?” (Se uma força é irresistível, nenhum corpo está imóvel) ou “Você entende que Deus criou o demônio para exercer mais controle sobre os humanos?”
  • Exclusão do meio-termo ou dicotomia falsa - considerando apenas os dois extremos em uma gama de possibilidades (fazendo o "outro lado" parecer pior do que realmente é): argumento que só considera os dois extremos entre várias possibilidades. Exemplo: “Se você não está do meu lado, está contra mim!” ou “ou você acredita em Deus, Jesus Cristo, em todos os santos, na infalibilidade do Papa ou você é um ateu!” 15.Curto Prazo versus Longo Prazo subconjunto da falácia anterior, mas muito comum. Exemplo: “Não podemos investir mais em educação porque o problema da violência precisa de solução mais imediata.”
  • Curto prazo vs. longo prazo - um subconjunto do terceiro excluído ("por que perseguir a ciência fundamental quando temos tão grande déficit orçamentário?")
  • Declive escorregadio: caso em que se aceitamos um meio termo, ele necessariamente conduzirá a algum extremo. Exemplo: “Se você deixar o aluno ir fazer xixi uma vez, ele vai acabar querendo ir toda hora e aí vai virar bagunça.” ou “Na hora em que começarem a permitir o uso de armas pequenas, logo todos terão armas enormes.”
  • Confusão de correlação e causa argumento: em que uma coincidência estatística, é entendida como causa. Exemplo: “Mais de 50% dos homossexuais têm curso superior, conclui-se que estudar transforma a pessoa em homossexual.”
  • Espantalho: argumento que ridiculariza uma posição intelectual para facilitar o ataque. Exemplo: “Não posso apoiar alguém que se diz filho de macacos!” (para ridicularizar o Darwinismo). Evidência suprimida ou meias-verdades.
  • Evidência suprimida ou meia verdade: o mesmo que apresentar uma evidência escondendo alguns detalhes que a invalidariam. Exemplo: “Este bairro está muito violento, só ontem morreram duas pessoas.” (ele só não disse que as duas morreram de causas naturais).
  • Palavras equívocas: utilizar eufemismos, ou seja, outras palavras “enfeitadas” para designar conceitos desagradáveis cujas verdadeiras palavras tenham conotação negativa. Exemplo: “A ONU mandou uma força de paz para aquele lugar” (sabemos o que é uma força de paz, é um pequeno exército armado até os dentes) ou quando o comandante fala para o soldado: “Precisamos manter a ordem, pode cuidar dos sem-terra.



(Extraído do The Planetary Society australianos Coordenadores de Voluntários do Preparado por Michael Paine)

http://www.carlsagan.com/

http://emeric.wordpress.com/2007/06/29/argumentos-falaciosos/