Por Cristiano Alves
NOTA DE INTRODUÇÃO: O nome de Stepan
Bandera tem ficado cada vez mais popular após os últimos acontecimentos no
cenário mundial referentes à Ucrânia, onde tem lugar uma guerra civil pela
independência de algumas partes do país e uma considerável ameaça de uma nova
guerra mundial, dados os movimentos de tropas da Organização do Tratado do
Atlântico Norte e da Federação Russa em direção às fronteiras deste último. O
fato também culminou na saída do G8.
Stepan Bandera é reverenciado pelos
ativistas da Maydan, mesmo é defendido em alguns blogs lusófonos. Mas quem é
esse homem cuja personalidade é cultuada em eventos na Ucrânia, que tem
estátuas erguidas em seu nome e grandes retratos afixados em prédios públicos?
Seu legado é positivo para a Ucrânia ou para o mundo?
Jornalista investigativo e tradutor,
fluente em inglês e na língua russa, o autor desse artigo consultou arquivos
ucranianos, russos e até poloneses que nos levam a surpreendentes descobertas
sobre o nome de Stepan Bandera e de sua organização na Ucrânia e muito além
dela.
Monumento
a Stepan Bandera no oeste da Ucrânia
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Com o desencadear dos últimos
acontecimentos na Ucrânia, muitos devem ter ouvido falar ou visto por acaso
referências a um certo Bandera. Não se trata de Moniz Bandeira ou Antônio
Bandeiras, muito menos do herói literário Bender, mas sim do carrasco ucraniano
Stepand Bandera, agente do Abwergroup, a inteligência nazista comandada pelo
grande espião Reinhard Gehlen, agente da Alemanha Nazista e depois da CIA,
responsável pela direção da Rádio Europa Livre(originalmente Radio Svoboda). A
história de Stepan Bandera está repleta de sangue e ódio, responsável pela
limpeza étnica de poloneses em Volhynia e de poloneses e ucranianos(seu próprio
povo) na Galícia(Halychina) Oriental, sua organização criminalizada não apenas
na URSS e na Rússia, como também na Polônia(rival político da Rússia),
República Tcheca, Eslováquia e Belarus.
Stepan Bandera era filho de um padre
greco-católico1 nascido em Uhryniv Stariy, na Galícia, quando esta região da
Ucrânia atual fazia parte do Império Austro-Húngaro, depois fazendo parte da
Polônia, da qual fazia parte a cidadania de Stepan Bandera. Bandera fundou a
maior organização terrorista da Ucrânia, surgida de um racha de uma organização
pré-existente, a Organização dos Ucranianos Nacionalistas(OUN). Ele teve
contato com várias organizações nacionalistas ucranianas desde a infância,
dentre as quais a Plast, organização de escoteiros de ucranianos fora da
Ucrânia(na Ucrânia, soviética, a única organização desse tipo eram os
Pioneiros), depois a Organização para a Libertação da Ucrânia, até ter contato
com a Organização dos Ucranianos Nacionalistas, da qual foi um de seus
primeiros membros na Ucrânia Ocidental. De todas as essas, a OUN era a mais
ativa.
Stepan Bandera reverenciado pelos neo nazistas ucranianos. |
Ativista dedicado, Bandera cresceu
rapidamente nas fileiras da OUN. Em 1932, ingressou em uma escola de
inteligência na Alemanha, em Dantzig. A OUN, como todos os movimentos que
defendiam o "nacionalismo ucraniano", já apresentava, nessa época já
antes dos nazistas chegarem ao poder, uma forte inclinação pró-alemã que aumentaria
exponencialmente com a chegada de Adolf Hitler. Mesmo ciente do envolvimento de
Bandera com a inteligência alemã, a direção da OUN o apontou para funções ainda
mais importantes. No período de 1930 a 1933, Stepan Bandera foi preso 5 vezes.
Em 1930 foi preso com seu pai por "propaganda antipolonesa", no verão
de 1931 por tentar cruzar ilegalmente a fronteira polaco-tchecoeslovaca, e em
março de 1931 pelo assassinato de um comissário de polícia política polonês,
sendo preso várias vezes por isso.
Em 1933, a OUN assassinou o agente
secreto soviético A. P. Maylov, em operação coordenada por Bandera e executada
por Nikolay Lemik, preso pela polícia polonesa e condenado à prisão perpétua.
Outra ação conhecida dele foi a direção de um atentado à bomba contra a sede do
jornal Pratsiya, executado por Ekaterina Zaritskaya. O crime mais famoso
cometido a mando de Bandera foi o assassinato do Ministro dos Assuntos Internos
Bronislav Peratskiy. O assassino, Grigoriy Matseyko, conseguiu fugir para o
estrangeiro. Uma vez que Bandera e seu companheiro Bogdan Pidgayskiy foram
flagrados tentando cruzar a fronteira com a Tchecoeslováquia, ambos foram
presos pela polícia polonesa, julgados e condenados à morte. Uma vez que no
mesmo dia do julgamento de Bandera um professor ucraniano foi assassinado pela
mesma arma que assassinou o ministro polonês, foi marcado um novo julgamento
que condenou Bandera à prisão perpétua por ter ordenado o assassinato do
professor Ivan Babiy, considerado um informante da Polícia Polonesa. Por essas
ações, a OUN passaria a ser considerada pelos poloneses como uma organização
terrorista.
Preso de 1936 a 1939, Bandera foi
transferido para várias prisões, a última delas a Fortaleza de Brest, cidade
então controlada pela Polônia. Com a invasão alemã, as forças militares
polonesas foram alertadas pelo Marechal Rydz-Smigly para que não combatessem os
soviéticos, que após a colapso do Estado Polonês(seus líderes internaram-se na
Romênia, Estado neutro), a Ucrânia e a Bielorrússia Ocidentais foram
incorporadas à RSSB e à RSSU, ambos países integrantes da União Soviética.
Segundo algumas versões, os agentes carcerários resolveram liberar os presos da
Fortaleza de Brest ante o colapso do Estado Polonês devido à invasão alemã.
Segundo outras, estes teriam sido libertados pelo Exército Vermelho, que
utilizaria como guarnição de fronteira a Fortaleza de Brest, ponto mais
ocidental da URSS.
Mas a OUN nada tinha de simpática aos
comunistas soviéticos, a quem consideravam como o inimigo
"judaico-moscovo-bolchevique". Bandera, libertado, retornaria à
Ucrânia ocidental, onde a OUN passaria a atuar de forma clandestina sob o
governo bolchevique. O NKVD, o Comissariado dos Assuntos Internos, da União
Soviética, já conhecia as atividades terroristas da OUN e inclusive já a combatia
ao redor do mundo. Em 1938, em Rotterdã, na Holanda, o agente soviético Pavel
Sudoplatov logrou se infiltrar na OUN e matou o seu fundador, Evgen Konovalets,
em um atentado à bomba, escondido numa caixa de chocolates, um suposto presente
seu. De acordo com Sudoplatov, também responsável pela eliminação de Trotsky,
segundo ele próprio, a ordem foi emitida a ele por Iossif Vissaryonovich
Stalin: "Este não é apenas um ato de vingança, apesar de que Konovalets é
um agente do fascismo alemão. Nosso objetivo é decapitar o movimento do
fascismo ucraniano às vésperas da guerra e forçar esses gangsteres a aniquilar
um ao outro em sua luta por poder"2. Com o poder soviético estabelecido na
Galícia, o novo governo tratou de perseguir os membros da organização terrorista
ucraniana, comprovadamente ligada aos alemães. Bandera, temendo ser pegue pelo
NKVD fugiu de Lvov.
Charge
russa ironiza os "Doces Sudoplatov", em razão da bomba criada pelo
agente soviético
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Em 1940, a OUN conheceria um racha que
afetaria a organização. Stepan Bandera rompera com o líder Andriy Melnyk,
considerado demasiado pró-alemão. Bandera, ao mesmo tempo defendeu uma aliança
temporária com os nazistas para o controle da Ucrânia, proposição no mínimo
ingênua com relação a Adolf Hitler, que declarara o desejo de transformar a
Ucrânia numa lebesraum, isto é, o "espaço vital" dos alemães, e que,
inspirado no programa de eliminação dos índios para embranquecer os Estados
Unidos, planejava a eliminação dos eslavos para germanizar a Ucrânia e a Rússia.
Quando o III Reich invadiu a União Soviética, a OUN de Bandera, mais que a de
Melnyk, revelou-se colaboradora fervorosa dos nazistas.
De acordo com os apologistas de Stepan
Bandera, muitos deles integrantes das diásporas ucranianas ocorridas entre a
guerra civil russa e os anos 40, Bandera "apenas queria a independência da
Ucrânia", mas por que eles acham que o III Reich, despois de incorporar à
Alemanha vários Estados, incluindo a França, iria permitir aos ucranianos
formar um Estado independente? Muitos também fazem uma analogia entre Bandera e
Stalin, mesmo com Chamberlain e Daladier mencionando que naquelas alturas o
nazismo não era considerado abominável como nos dias de hoje e "se era
moral que Stalin, Daladier e Chamberlain pactuassem com Hitler, logo também o
seria se Bandera fizesse o mesmo". Esse discurso é falacioso e peca pela
omissão, omitindo que todos esses pactos tinham objetivos diferentes daquele
proposto por Bandera. Chamberlain e Daladier pactuaram com Hitler para entregar
ao seu controle zonas estranhas aos interesses de seus Estados, no caso a
Tchecoeslováquia. Stalin pactuou com Hitler para ganhar tempo para preparar o
Exército Vermelho para se proteger da invasão nazista e uma possível invasão da
Inglaterra. Bandera pactuou com Hitler para garantir a estadia do III Reich em
território ucraniano e para garantir que ucranianos lutassem ao lado de Hitler
contra o seu próprio povo e contra o "judaico-moscovo-bolchevismo".
A organização de Stepan Bandera tinha
muito em comum com a organização de Adolf Hitler. Este último clamava a
"superioridade da raça germânica" e evocava seu suposto papel
civilizatório da humanidade. O primeiro clamava a "superioridade da
cultura ucraniana" e evocava o seu papel de "verdadeiros ucranianos".
Os russos que conhecemos, segundo os "nacionalistas" ucranianos
seriam uma suposta invenção tártaro-mongol diferentes da etnos ucraniana. Se o
fascismo alemão tem como marcas de seu ódio o antissemitismo, o racismo
antinegro, a eslavofobia e o anticomunismo, o fascismo ucraniano tem como
marcas de seu ódio o antissemitismo, a russofobia e o
anticomunismo(posteriormente elementos como o racismo antinegro passariam a
integrar a ideologia fascista ucraniana). É importante frisar que essa teoria
do "russo mongol", embora cultivada pelos nacionalistas ucranianos, é
uma invenção eugenista alemã, surgida quando o Pangermanismo e o Pan-eslavismo
rivalizavam entre si durante o século XIX. A Alemanha, com o intuito de
justificar o seu controle sobre a Europa Oriental, procurou retratar os russos
como "tártaro-mongóis" ávidos por barbarizar a Europa. Adolf Hitler e
Stepan Bandera apenas desenterraram essas teses do Império Alemão para
justificar seu ódio russofóbico.
Apesar de ser visto por alguns
ucranianos como um "herói da independência", ele não passava de uma
marionete dos alemães, "Stefan Popel", como era chamado no serviço
secreto alemão. Bandera respondia diretamente ao famoso espião nazista Reinhard
Gehlen, conhecido como "O lobo cinzento de Hitler", oficial do Abwehr
e depois da CIA, americana. A Gehlen, além de Popel(Stepan Bandera) e a
OUN(facção B), também respondiam a Ustasha croata, os Vanagis letões, a Guarda
de Ferro romena e os vlassovistas russos. Gehlen também coordenou a
inteligência da Alemanha Ocidental. Sua organização também forneceu armas,
equipamentos e munições a uma organização soviética disfarçada de colaboradores
bielorrussos, o SMYERSH(sigla para MORTE AOS ESPIÕES), coordenada pelo agente
comunista Rudolf Abramovich Abel, o "espião de seis faces", mestre do
disfarce.
Bandera colaborou ativamente com os
nazistas quando de sua chegada na Ucrânia. Lugares históricos na Ucrânia
chegaram a ser remodelados com a inscrição "Heil Hitler! Slava Hitlera!
Slava Bandery"(Salve Hitler! Glória a Hitler! Glória a Bandera!). Sobre a
invasão nazista, repudiada na República Socialista Soviética da Ucrânia, a
OUN-B emitiu o seguinte comunicado:
1. Pela vontade do povo ucraniano, a
Organização dos Ucranianos Nacionalistas sob a direção de Stepan BANDERA
proclama a formação do Estado Ucraniano ao qual curvaram a cabeça gerações dos
melhores filhos da Ucrânia.
(...)
2. Nas terras ocidentais da Ucrânia um
Governo Ucraniano é formado, que está subordinado ao Governo Nacional Ucraniano
que será formado na capital da Ucrânia - Kiev.
3. O novo Estado Ucraniano formado
colaborará com a Grande Alemanha Nacional-Socialista, sob a liderança de seu
líder Adolf HITLER que está formando uma nova ordem na Europa e no mundo e está
ajudando o povo ucraniano a se libertar da ocupação Moscovita.
O Exército Revolucionário Nacional
Ucraniano que foi formado em terras ucranianas, continuará a lutar com o ALIADO
EXÉRCITO ALEMÃO contra a ocupação moscovita pela soberania de um Estado
unificado e pela nova ordem no mundo inteiro.
Vida longa à Soberania da Ucrânia Unida!
Vida longa à Organização dos Ucranianos Nacionalistas! Vida longa ao líder da
Organização dos Ucranianos Nacionalistas e do povo ucraniano - STEPAN BANDERA!
Glória à Ucrânia!
Como se pode perceber no comunicado
banderista, o governo soviético é apenas descrito como "moscovita".
Ele também deixa claro o intuito de "lutar com o aliado exército alemão...
pela nova ordem no mundo inteiro", isto é, uma ordem imperialista,
capitalista e abertamente racista. Esse "nacionalismo" em realidade
sequer nasceu na Ucrânia, mas sim na Galícia, território por séculos ocupado
por poloneses, austríacos e alemães. Segundo estudiosos, diferente do
nacionalismo dos países ocidentais, que começou moderado, clamando a
reunificação nacional e depois se tornou extremista, após a consolidação do
Estado, exemplo notável na Itália e na Alemanha, na Galícia esse nacionalismo
já surgiu extremado. É importante frisar que na Ucrânia, no século XIX, surgira
um nacionalismo diferente daquele surgido na Galícia no século XX, ele possuía
um caráter socialista ou liberal, reivindicando valores humanistas. Ele
encontrava a sua expressão em nomes como o ex-servo Taras Shevchenko, exaltado
na União Soviética como herói proletário, e mesmo no atamã cossaco Bohdan
Hmelnytskiy, que combateu o invasor polonês. Talvez mesmo poderíamos falar do
escritor ucraniano de origem cossaca Nikolay Gógol. O nacionalismo da Galícia,
segundo a classificação do Carlton Hayes em The Historical Evolution of Modern
Nationalism, esse seria um "Integral nacionalismo". Foi provavelmente
o reconhecimento desse "nacionalismo socialista" ucraniano do século
XIX que levou Lenin defender a independência da Ucrânia, fato consumado com o
estabelecimento da República Socialista Soviética da Ucrânia.
"Minha pátria por 2 milhões de
marcos"
De acordo com a Academia Nacional de
Ciências da Ucrânia e outras fontes, o líder da OUN-B, Stepan Bandera,
participou de vários encontros com os líderes da inteligência da Alemanha,
referentes à formação dos Batalhões Rouxinol e Roland. Em 25 de fevereiro de
1941, o líder do Abwehr, Wilhelm Franz Canaris sancionou a criação da
"Legião Ucraniana" sob o comando da OUN-B. A organização de Bandera
esperava que a unidade se tornasse o núcleo do futuro Exército Ucraniano. Para
isso, durante a primavera, a organização de Bandera recebeu 2.5 milhões de marcos
para promover atividades subversivas e sabotagem contra a retaguarda do
Exército Vermelho, facilitando o avanço das tropas alemãs em seu ataque à União
Soviética.
Na Alemanha, em novembro de 1941, os
seguidores de Bandera foram reorganizados no 201º Batalhão Schutzmannschaft. A
eles foram dados contratos individuais e pagamento. Segundo o livro
"História da União Soviética: Período socialista 1917-1957", escrito
nos anos 50, o perfil dos colaboradores era geralmente o de ex-detentos e
elementos vadios da sociedade.
Sob o comando de Roman Shuhyevich, braço
direito de Bandera, o Batalhão, composto de 650 pessoas, participou de ações
contra a Bielorrússia. Expirado o seu contrato de um ano, os mercenários
ucranianos se recusaram a renovar o contrato, o que levou à sua prisão pela
Gestapo. O seu comandante Roman Shuhyevich foi poupado.
Segundo o historiador judaico-polonês
Frank Golczewski, especialista no Holocausto, as atividades do 201º Batalhão
Schutzmannschaft na Bielorrússia consistia no combate aos partizany e no massacre
de judeus. De acordo com os próprios registros da OUN e com o Instituto de
História da Ucrânia da Academia de Ciências Ucraniana, de nítidas inclinações
nacionalistas, conforme visível em sua página virtual, mais de 2000
guerrilheiros soviéticos foram mortos durante as ações do batalhão comandado
por Roman Shuhyevich. O historiador Anders Rudling clama que o termo partizan
era quase sempre um sinônimo para "judeus", fato que comprova que a
ideologia "nacionalista" ucraniana, o banderismo, a mesma ideologia
que vive a alardear o mundo sobre um suposto "genocídio ucraniano
promovido por Stalin", foi ela própria uma justificativa para a
participação de sua organização no Holocausto nazista.
O pogrom de Lvov
Se as primeiras ações dos bolcheviques
visavam o pão, a paz e a terra, as primeiras ações dos banderistas,
autoproclamados "revolucionários", começaram com os pogrons, a
exaltação e do nazismo e o desejo de com ele colaborar. Os banderistas do recém
formado Exército Insurrecional Ucraniano(UPA) uniram-se aos batalhões da SD e
lograram massacrar a intelligentsia russa, judaica e comunista da cidade de
Lvov(Lviv em ucraniano). Por toda parte cartazes banderistas alardeavam que
"os judeus eram a vanguarda do imperialismo moscovita" ou que eram
"a vanguarda do comunismo", assim, eles eram arrastados pelas ruas,
mulheres eram humilhadas, tendo as suas roupas arrancadas, sendo apedrejadas
por crianças e espancadas. Judeus passavam pela mesma humilhação, em alguns
casos eram forçados a beijar monumentos a Lenin derrubados. Tudo isso era, a
propósito, filmado e fotografado pelos soldados nazistas. Nesses pogrons as
milícias ucranianas de Lvov não raramente demonstravam um grande estado de
êxtase, comparável apenas ao demonstrado pelos americanos durante os linchamentos
de negros nos Estados Unidos da América. Os judeus também eram forçados a andar
de joelhos pelas ruas calçadas da cidade. O pogrom de Lvov foi um dos primeiros
pogrons iniciados pelos nazistas em território soviético que integrariam o
Holocausto Judeu, o seu primeiro na URSS se daria em outra república soviética
que hoje é conhecida também pela sua russofobia e anticomunismo, a Letônia,
após a entrada dos nazistas.
Judeu
idoso é chutado por pogromista ucraniano
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Aqui
mais um colaborador ucraniano coordena atos de repressão
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Prisioneiros
judeus são obrigados a exumar cadáveres de criminosos ucranianos sem
equipamento
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Judeus
são obrigados a andar de joelhos por Lvov, capital da colaboração ucraniana
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Mulher é
publicamente humilhada pelos "inocentes ucranianos"
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Cidadão
é obrigado a beijar um monumento derrubado de Lenin
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Mais uma
vítima dos fascistas ucranianos
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Foto com
um pogromista identificado, Mihaylo Pecharskiy, integrante da Milícia
Ucraniana, criada pela OUN e reconhecida pelos nazistas.
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Mais uma
mulher humilhada pelos nazistas ucranianos.
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É importante frisar que a posição
antissemita dos neonazistas ucranianos foi relativizada nos dias atuais. Se os
nazistas ontem promoviam o pogrom, hoje eles admitem até um presidente
ilegítimo judeu, o "rei do chocolate" Petro Poroshenko. Mesmo na
época de Bandera judeus foram permitidos em algumas posições de sua
organização, mas isso não foi o suficiente para impedir os pogrons. Por mais
bizarro que possa parecer, hoje a cidade de Lvov(Lviv) na Ucrânia tem ruas e
até monumentos erguidos em homenagem aos criminosos da OUN(b) e ao próprio
Stepan Bandera.
Apesar de ser um agente alemão,
Bandera(ou Stefan Popel, seu codenome) nem sempre reinou sobre a Ucrânia
durante a ocupação nazista. Após alguns meses de ocupação, ele e seu círculo
mais próximo visou mais autonomia em relação a Hitler, o que levou à sua prisão
e à de Yaroslav Stetsko e mesmo à prisão e fuzilamento de alguns membros da
OUN-B. Segundo alguns autores, isso teria sido ensaiado por Bandera a fim de
promover um expurgo na organização e minar a luta pelo poder. Bandera, junto a
Stetsko, foi levado a um campo de concentração alemão para "prisioneiros
VIP" como pilotos ingleses, por exemplo. Essa prisão é comumente alegada
pelos apologistas do fascista ucraniano como suposta "prova de que ele só
queria usar os nazistas", ignorando se tratar de um campo VIP e que ele
próprio seria depois liberado pelos alemães.
Mesmo não tendo sido levado ao Tribunal
de Nuremberg, Stepan Bandera foi descrito várias vezes como "agente do
Abwehr" pelo coronel Stolze, do Abwehr II, em dezembro de 1945. De acordo
com o seu testemunho, "Conduzindo as instruções de Keitel e Jodl
mencionadas acima, eu contatei os nacionalistas ucranianos que estavam no
Serviço de Inteligência Alemão e outros mebros de grupos nacionalistas
fascistas, a quem eu recrutei para conduzir as tarefas definidas acima. Em
particular, as instruções foram dadas a mim pessoalmente para os líderes dos
ucranianos nacionalistas, os agentes alemães Myelnik(codenome Consul I) e
Bandara para organizar, imediatamente após o ataque da Alemanha à União
Soviética, e provocar demonstrações na Ucrânia para desintegrar a retaguarda
dos exércitos soviéticos, e também para convencer a opinião pública
internacional da alegada desintegração da retaguarda soviética."3 Isso
ajuda a entender como "o povo ucraniano recebeu e saudou os invasores
nazistas", fato esse verificado apenas nos territórios ocidentais do país
como a Galícia, onde era ativa a atuação da OUN(B).
Hatyn, Bielorrússia: "nós não somos
alemães"
O massacre de Hatyn, na
Bielorrússia(atualmente o país se chama Belarus) foi um dos mais brutais crimes
cometidos contra os povos eslavos durante a ocupação alemã da União Soviética.
De tão profunda que é a cicatriz deixada pelo massacre na história da República
de Belarus, ele foi dramatizado no filme "Idi i smotri"(Vá e veja). O
filme, produzido pelo cineasta bielorrusso Elem Klimov, ele próprio um
sobrevivente da guerra, é uma obra prima do cinema por captar todo o terror
psicológico produzido pelo massacre de Hatyn. Nele um garoto perde toda a sua
infância observando o seu povo ser exterminado, até que no final, após
capturados pelos partizans, isto é, os guerrilheiros da resistência, um dos
carrascos capturados grita histericamente my ne nemtsy, my ne nemtsy(nós não
somos alemães, não somos alemães)! E de fato, os promotores deste massacre, que
envolveu mais de 300 fuzilados e mais de 100 pessoas queimadas vivas no
vilarejo bielorrusso, não eram alemães, mas sim ucranianos colaboracionistas,
conforme confirmado por historiadores e investigadores históricos da República
de Belarus, Federação Russa e da própria Ucrânia.
Memorial
de Hatyn, na República da Bielorússia
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Em março de 1943 foram queimados vivos
152 habitantes da aldeia bielorrussa de Hatyn, dentre essas 75 crianças entre 7
semanas de vida e 15 anos. Eles foram trancados numa igreja da aldeia, sendo lá
dentro trancados e queimados vivos. Alguns conseguiram escapar, mas foram
alvejados por tiros de metralhadora. Dentre os vivos restaram apenas 4, um
deles um ancião, Iosif Kaminsky. Procurando o cadáver de seu filho, ele o
encontrou queimado e o ergueu em seus braços, cena que celebrizou um monumento
hoje erguido em Belarus dentre as ruínas de Hatyn.
Durante a Era Soviética evitou-se falar
dos verdadeiros autores de Hatyn, a fim de não prejudicar a "amizade dos
povos", princípio que norteia as ideias comunistas. Temia-se a criação de
conflitos entre ucranianos e bielorrussos, por isso mesmo o filme feito sobre o
massacre evitou falar diretamente sobre a autoria da monstruosidade, fato
conhecido pelos sobreviventes de Hatyn e investigadores soviéticos. Com o fim
da União Soviética e consequentemente da noção de "amizade dos
povos"5, assim como o ressurgimento do fascismo na Ucrânia, investigadores
históricos passaram a "dar nome aos bois".
Produzido em 2008, o documentário
russo-bielorrusso Pozornaya tayna Hatyni(O segredo vergonhoso de Hatyn) nos dá
provas da autoria do 118º Batalhão de Polícia do Exército Ucraniano sob o
comando do major polonês Smowsky. Deste batalhão fazia parte um grande número
de membros da OUN-UPA, um desses o primeiro-tenente ucraniano Grigoriy
Vassyura. Cerca de duzendos deles eram "nacionalistas" da cidade de
Tchernovtsy, oeste da Ucrânia, eles formavam a espinha dorsal deste batalhão.
Em 22 de março de 1943, os partizany bielorrussos lograram destruir o automóvel
e a vida do capitão fascista Hans Woellke a apenas 40Km de Minsk. Ele era
campeão de arremesso de peso das Olimpíadas de 1936, o primeiro campeão alemão
em atletismo leve, querido de Hitler. Assim, em represália os nazistas
determinaram "ações punitivas" contra vilarejos bielorrussos. Uma vez
que o major Smowsky encontrava-se doente, ele colocou o primeiro-tenente
Vassyura, desertor do Exército Vermelho, no comando do destacamento do
batalhão, sob ordens do major de polícia alemão Erich Kerner6. Um dos
comandantes era outro ucraniano, Vassiliy Meleshko. Primeiro eles chacinaram 27
habitantes da vila de Kozyry, depois partiram para Hatyn. O próprio Vassyra,
armado de pistola e submetralhadora, fuzilou vários pessoalmente. O batalhão
punitivo executou ações de genocídio contra outros 12 vilarejos.
Com seus feitos inteiramente
desconhecidos ao final da guerra, Vassyra foi preso e condenado a 25 anos em um
campo de trabalho corretivo(unidade do GULAG) por colaboração com os alemães.
Seu destino mudaria drasticamente com o advento da "desestalinização"
promovido por Nikita Hruschov. Alegando ter sido condenado apenas por "ter
sido feito prisioneiro", Vassyura foi anistiado e retornou à Ucrânia,
passando de "inimigo do povo" para a condição de "vítima do
stalinismo". Na Ucrânia soviética ele chegou a se tornar diretor de uma
fazenda coletiva(kol'hoz). Pelo seu "exemplo", ele tornou-se
"veterano de guerra e do trabalho", chegou a participar de vários
encontros com crianças em escolas.
Durante o aniversário de 40 anos do
final da guerra, por ter se apresentado como um "combatente do
front", Vassyura foi ousado a ponto de reclamar para si uma das mais
importantes ordens militares atribuídas aos veteranos da II Guerra na União
Soviética, a Ordem da Guerra Patriótica. A princípio os órgãos legais interessaram-se
pela história desse "herói de guerra" que constava como
"desaparecido em combate". Uma ampla investigação levou a colegas de
Vassyura, que por sua vez o denunciaram como "um dos cruéis comandantes do
batalhão da morte". Na lista do ex-oficial do Exército Vermelho constavam
360 mulheres, idosos e crianças executados. Além de Hatyn, ele liderara
expedições punitivas contra os vilarejos de Dalkovich e Ossov, onde fuziladas
78 pessoas, além de expedições contra Makove, Uborok e Kaminskaya Sloboda, onde
exterminou pelo menos 50 judeus.
Processado, julgado e condenado por um
Tribunal Militar na Bielorrússia, Grigoriy Vassyura foi fuzilado em 1986 por
crimes de guerra. Seus cúmplices tiveram sentenças menores, no mínimo 8 anos de
prisão. O depoimento de Grigoriy Vassyura feito em seu julgamento rendeu um
livro em 14 tomos. Longe de inocentar seus homens, ele declarou em juízo:
"peguem o comandante Meleshko, ele é um sádico que fede a sangue".
Ele confessou ter matado não menos que 360 pessoas.
O caso Vassyura e suas confissões, como
o fato de cidadãos de Tchernovstsy terem sido voluntários do 118º Batalhão de
Polícia do Exército da Alemanha nazista constitui a prova inexorável da autoria
dos banderistas no extermínio de cidadãos pacíficos da República Socialista
Soviética da Bielorrússia, demonstrando que o seu ódio aos
"moscovitas", poloneses, comunistas e judeus iam muito além. Esse
fato destrói pedra sobre pedra o mito de que os "nacionalistas"
ucranianos apenas lutavam contra o domínio de Moscou e de Varsóvia, tratando-se
de genocidas e carrascos sem quaisquer escrúpulos.
Volhynya, o holocausto polonês
Em 1943, Stepan Bandera encontrava-se
prisão de Sachsenhausen, no quartel de Zellenbau, para presos de alto perfil
que colaboravam com os nazistas. Fora da Ucrânia ele ficava longe dos conflitos
entre a OUN(b) e a facção de Andriy Melnyk, que em sua luta pelo poder
eventualmente combatiam entre si. Isso também impedia que um agente nazista tão
valioso fosse emboscado por partizany. O controle que a OUN-UPA(o Exército
Insurrecional Ucraniano, organizado sob a tutela dos nazistas) exercia sobre o
ocidente da Ucrânia era muito grande.
Enquanto a OUN de Melnyk admirava os
aspectos do fascismo italiano, a OUN de Bandera admirava os aspectos do
fascismo alemão. A ideologia de sua organização incluía a glorificação da
violência, nacionalismo integral, totalitarismo, racismo russofóbico,
antipolonês e em vários casos antissemita, e anticomunismo. O componente
antipolonês da ideologia banderista seria expresso no massacre de Volynia. A
limpeza étnica promovida nessa região estava em conformidade com as ideias de
Bandera de criar um país sem minorias étnicas.
Com o crescente número de atividades
guerrilheiras por parte dos poloneses e de prisioneiros de guerra do Exército
Vermelho que escaparam dos nazistas, a região de Volynya passou a ser uma área
de preocupação para o comando alemão, que buscou métodos de
"pacificar" a região. Com a constituição do Exército Insurrecional
Ucraniano(UPA), o comando foi atribuído ao braço direito de Stepan Bandera,
Roman Shuhyevich, que visava aprender com os alemães os seus métodos de
extermínio.
Os métodos de extermínio dos alemães
consistiam em primeiramente planejar cuidadosamente a operação, estudar o
local, efetuar promessas vãs para a população local antes de sua aniquilação,
cerco repentino e matança em massa. O treinamento desses métodos em 1942, bem
como no manuseio de armas alemãs, preparou os fascistas ucranianos para o
extermínio dos poloneses.
Dentre 1942 e 1943, estima-se que os
fascistas ucranianos, atuando como unidades de Polícia do Exército Alemão,
exterminaram em Volhynia e na Galícia Oriental, pelo menos 100 mil poloneses!
Os números variam de acordo com os historiadores, sendo as cifras mais altas
dentre os historiadores poloneses. Segundo Czeslaw Partacz, dentre 134 mil e
200 mil poloneses foram exterminados em Volhynya e na Galícia. Lucyna Kulinska
fala em 150 a 200 mil nos mesmos territórios. Um estudo conjunto feito por
historiadores da Polônia e Ucrânia feito no ano 2000 aceitou o número de 50 a
60 mil só em Volhynya. Alexander Gogun, historiador russo participante da
Conferência de Potsdam, dos Aliados, estimou que só em Volhynya mais de 25 mil
foram mortos dentre 1943 e 1944. É um número muito elevado dado o curto período
de tempo e métodos intencionais de extermínio através da brutalidade.
As atrocidades perpetradas pelos
seguidores de Stepan Bandera contra a minoria polonesa não poupavam civis
independente de idade ou sexo em nome de sua política racista de
"despolonização". Segundo Norman Davies, em No Simple Victory:
"Vilas eram queimadas. Padres católicos
romanos eram esquartejados a golpes de machado ou crucificados. Igrejas eram
queimadas com todos os seus clérigos. Fazendas isoladas eram atacadas por
gangues carregando ciscadores e facas de cozinha. Gargantas eram cortadas.
Mulheres grávidas eram mortas à baioneta. Crianças eram partidas ao meio.
Homens eram emboscados no campo. Os perpetradores não poderiam determinar o
futuro da província. Mas ao menos podiam determinar um futuro sem poloneses."
Em Volhynya veio ficou registrado o
ápice do terror banderista, era constante o uso de métodos de sadismo que nem
mesmo os fascistas alemães usaram de forma tão explícita. Ações terroristas
como o desmembramento de civis, decapitação e esquartejamento de homens em
frente às suas famílias eram comuns. Mulheres eram estupradas e mutiladas pelas
gangues de Stepan Bandera, por vezes em frente à sua família. A resistência a
essas ações eram impossibilitadas devido à garantia de que "nada lhes seria
feito" e de que a ocupação de tais vilas seria supostamente temporária.
Além disso, todos os habitantes das vilas eram exterminados, quase nunca
sobravam testemunhas. Crianças eram enforcadas e amarradas a árvores com arame
farpado. Poloneses tinham objetos pontiagudos como pregos introduzidos em seus
crânios, a fim de que morressem de forma lenta e dolorosa.
Abaixo algumas das atrocidades cometidas
em nome de Stepan Bandera:
Massacre
em vila polonesa. Aproximadamente 170 poloneses assassinados em uma noite.
|
Exumação
de cadáveres na vila de Wola Ostrowiecka, revelando sinais de golpes de machado
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Camponesa
polonesa esquartejada pelos fascistas ucranianos em 1943. Esses atos eram comumente
aplicados às mulheres, após estuprá-las.
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Mulher
polonesa com uma das mãos decepadas, aparentemente com o corpo partido ao meio.
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Mais um
registro do massacre promovido pelos anticomunistas ucranianos, defensores
ardentes do capitalismo e de Adolf Hitler, seguidores de Stepan Bandera
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Crianças
amarradas a uma árvore com arame farpado pelos bandeiristas
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Ex-presidente
ucraniano Viktor Yuschenko cumprimenta um grupo neonazista da Ucrânia
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Inúmeros são os relatos dos poucos
sobreviventes do massacre sobre os crimes cometidos pelos gângsteres de Stepan
Bandera, crimes esses cometidos não apenas contra poloneses, mas também contra
tchecoeslovacos, minoria em Volhynya, e mesmo contra os próprios ucranianos que
se recusavam a participar de suas raides assassinas contra camponeses
pacíficos. Os ucranianos que se recusavam tinham seu sangue derramado e com ele
mesmo era escrito na parede de suas casas "Sou um traidor da Ucrânia!
Glória à Ucrânia! Glória aos Heróis!".
A Waffen SS Galizien
Com a mudança no curso da guerra a
partir da vitória soviética na Batalha de Stalingrado, foi formada em abril
1943 a 14ª Divisão de Granadeiros da Waffen SS, mais conhecida como Waffen SS
Galizien. A divisão era formada por católicos orientais e permitia capelães.
Ela incluía os voluntários banderistas do ocidente da Ucrânia, da Galícia e da
Volhynia, incluso os integrantes do Batalhão Volhynya, ou Unidade de Defesa
Ucraniana, 31º Destacamento Punitivo da SD. Uma minoria de seus integrantes
incluía alemães e holandeses. A unidade militar participou de ações de
extermínio não apenas na Ucrânia, mas também de uma rebelião na Eslováquia e na
Eslovênia, onde combateu uma guerrilha antinazista.
Em um discurso para os oficiais da
Waffen SS Galizien disse o reichsführer Heinrich Himmler:
Sua terra natal tornou-se muito mais
bonita desde que vocês perderam - sob nossa iniciativa, devo dizer - os
residentes que frequentemente sujavam o bom nome da Galícia, nominalmente os
judeus.
Até os dias atuais os apologistas de
Stepan Bandera negam o seu colaboracionismo com os nazistas. Toda essa
sofistaria não possui nenhum valor de veracidade diante dos fatos! Como bem
coloca o historiador belga Ludo Martens, a colaboração de banderistas e
nazistas era conhecida até mesmo do outro lado do oceano - o Exército Americano
fez 11 álbuns que comprovam a colaboração bandero-hitlerista. As fotos abaixo
comprovam o envolvimento dos fascistas da Ucrânia com os da Alemanha:
O
Reichsfüffer SS Heinrich Himmler inspeciona a divisão da SS formadas por
voluntários ucranianos. Coincidentemente ou não, o seu número é "14",
que na simbologia nazista indica a saudação Sieg Heil
|
A
confiança dos alemães era tanta nos "nacionalistas" ucranianos, que
alguns militares aparecem aqui com a mais alta condecoração da Alemanha
nazista, a Cruz de Ferro
|
"Junte-se
às tropas da Divisão de Fuzileiros da Galícia da SS", cartaz de propaganda
em ucraniano
|
"Eu
sou voluntário", cartaz de propaganda dos banderistas, para recrutamento
na SS Galícia
|
"Levante-se
para lutar com o bolchevismo nas tropas da Divisão da Galícia". Cartaz
anticomunista dos nazistas e dos "nacionalistas" ucranianos
|
"A
SS da Galícia vai à batalha". Panfleto banderista exaltando o nome de
Adolf Hitler em ucraniano
|
"Divisão
Ucraniana Galícia. 1943. Eles defenderam a Ucrânia"
|
Veterano
da SS Galizien marcha com jovens neonazistas e cartazes de apologia ao nazismo
na Ucrânia antes da Maidan
|
Cemitério
erguido em homenagem ao racismo na Ucrânia capitalista
|
A ideia de que o o "nacionalismo
ucraniano não tem qualquer associação com o nazismo", ou de que "se tratou
de mera aliança de oportunidade" não condiz com os fatos e é inclusive
refutada facilmente por um amplo acervo fotográfico.
Embora filmes ucranianos contemporâneos
clamem que "os banderistas lutaram contra Stalin e contra Hitler",
além dessa versão ser facilmente refutável pelo acervo citado, ela também é
refutada pelos fatos e por um discurso do próprio Adolf Hitler. Em abril de
1941, a Divisão SS Galizien foi transferida para o agora formado Exército
Nacional Ucraniano, força guerrilheira anticomunista e racista que visava
atacar a retaguarda, especialmente os suprimentos do Exército Vermelho, de modo
a retardar o avanço deste até Berlim(o que se concretizaria em maio). Esse
exército seria comandado pelo ucraniano Pavlo Shandruk. Frequentemente seus
comandantes e destacamentos seriam transportados de avião pelos alemães e
lançados de paraquedas na Ucrânia, na retaguarda do Exército Vermelho com
armamentos modernos que incluíam o fuzil automático Stg-44.
Cético quanto à capacidade dos
ucranianos de impedir que o Exército Vermelho chegasse a Berlim, Hitler chegara
a dizer que os fascistas ucranianos estavam sendo melhor armados do que os
fascistas alemães:
"Seja essa unidade confiável ou
não. No momento eu não posso sequer criar novas formações na Alemanha por que
eu não tenho armamentos. Deste modo é idiotia dar armas à divisão ucraniana que
não é completamente confiável. Eu preferiria tomar as armas deles e montar uma
nova divisão alemã. Eu considero que ela está excelentemente ocupada, talvez
muito melhor armada do que a maioria das divisões que estamos criando neste
momento."8
De combatentes nazistas a "vítimas
do comunismo"
Para o pós-modernismo, polpa ideológica
da burguesia, conceitos como "bom" e "ruim",
"moral" e "imoral" são apenas pontos de vista. Marx, em
"O manifesto comunista", já dizia que a burguesia "submergiu nas
águas glaciais do cálculo egoísta os frêmitos sagrados da piedade exaltada, do
entusiasmo cavalheiresco"9. Em outras palavras, o doutor alemão demonstra
que a burguesia abandonou completamente a noção de honra, sendo seguida, no
campo ideológico, por pessoas frívolas, oportunistas, fracas!
Durante 4 anos o comunismo deixara de
ser o grande "bicho-papão". Findada a guerra, ao mesmo tempo em que
até desenhos da Disney abominavam o nome de Adolf Hitler, os nomes de Iósif
Vissaryonovich Stalin e do povo soviético eram elevados às alturas! Grandes
comandantes americanos declaravam publicamente sua admiração pelo
"heroísmo do Exército Vermelho", almirantes, generais e ministros da
guerra americanos falavam que "nós e os nossos aliados estão eternamente
gratos e sempre em débito com o exército e o povo da União Soviética."10.
No Rio de Janeiro, um grupo de alpinistas afixou no Corcovado uma faixa
chamando Stalin de "o grande campeão da paz", em fins dos anos 40.
Mas se o Exército Vermelho salvara o próprio povo e o de outros países da
tirania e da selvageria fascista, ele também salvara, involuntariamente, os
negócios de grandes capitalistas e as ações das bolsas de Londres e de Nova Iorque.
E feito isso, ninguém mais precisava de Stalin e do Exército Vermelho. Para
justificar suas ações militares pelo mundo também precisavam de um motivo, de
um "novo Hitler", de um novo III Reich, e esses seriam Stalin e a
União Soviética.
Durante a guerra, John Loftus era
responsável, no Departamento de Justiça de Washington, pelo serviço de
pesquisas especiais, encarregado de detectar os nazistas que procuravam
infiltrar-se nos Estados Unidos. Em seu livro The Belarus Secret(O segredo
bielorrusso), ele afirma que seu serviço se opunha à entrada no país de
nazistas ucranianos. Mas Frank Wisner, que dirigia o Escritório de coodenação
política, um serviço de informação, fazia sistematicamente entrar nos EUA
antigos nazistas ucranianos, croatas, húngaros. Wisner, que teria mais tarde
importante papel na CIA, declara9:
"A organização dos nacionalistas
ucranianos e o exército dos resistentes que ela criou em 1942 (sic), o exército
insurrecional ucraniano, lutaram asperamente tanto contra os alemães quanto contra
os russos soviéticos"10. Deste modo, ficava claro que o serviço secreto
americano havia adotado a versão da história dada pelos nazistas ucranianos com
o propósito de entrar nos Estados Unidos. Loftus respondeu a Wisner:
"Isso é completamente falso. O
Corpo de Contra-Inteligência dos Estados Unidos tinham um agente que havia
fotografado 11 álbuns de fichas secretas internas da OUN, relativas a Bandera.
Essas fichas mostram claramente que a maior parte de seus membros trabalhava
para a Gestapo ou a SS como policiais, executores, caçadores de resistentes e
funcionários municipais"12
Mas falecido o democrata antifascista
Roosevelt e finda a guerra, os Estados Unidos não apenas recebiam nazistas como
os financiavam através dos "Institutos de Pesquisa" fundados pelos
banderistas da OUN-UPA, fossem da tendência Melnyk ou da tendência Bandera.
Loftus declarou que "o financiamento desses "institutos de
pesquisa", que não eram outra coisa senão grupos de cobertura para antigos
oficiais de informação nazistas, veio do Comitê Americano para a Libertação do
Bolchevismo"13.
Esses "institutos de pesquisa"
deram uma valorosa contribuição ao anticomunismo nos Estados Unidos. Em 1985,
nos anos de Ronald Reagan, o filme Harvest of Despair obteve a medalha de ouro
no 28º Festiva Internacional do Cinema e de TV de Nova Iorque. Harvest of
Despair(A colheita do desespero) era um filme feito para o grande público,
Harvest of Sorrow(Colheita da tristeza), era um livro, feito para a
intelectualidade. Ambos se tratavam de trabalhos com base em "vítimas do
comunismo". Durante o filme, sobre o "genocídio" ucraniano,
aparecem como testemunhos Stepan Skrypnik, que foi redator-chefe do jornal
nazista Volin, vivia como refugiado na América. Outro testemunho é o alemão
Hans Von Herwarth, que trabalhava na URSS recrutando russos para o exército colaboracionista
do general Andriey Vlassov. Outro testemunho do filme é o seu compatriota Adolf
Henke, diplomata nazista. Ilustram a "fome genocida contra os
ucranianos" fragmentos dos filmes Le Tsar Famine(A fome do tzar), de 1922,
Arsenal, de 1929, e depois sequências de Le Siége de Léningrad(O cerco de
Leningrado), filmado nos anos da IIGM.
O filme foi atacado publicamente em 1986
por falsificações. Muitas dessas imagens são ainda veiculadas em documentários
sobre o Holodomor e em exposições sobre o "Holocausto ucraniano",
além de poderem ser facilmente achadas em blogs anticomunistas.
Os banderistas por muito tempo foram as
fontes fascistas de Robert Conquest, que conforme revelado pelo jornal The
Guardian em janeiro de 1978, era um agente do IRD britânico que depois
ingressou na CIA americana e, apadrinhado por essa, tornou-se historiador de
Harvard, sendo a fonte de consulta de muitos historiadores, tido por autoridade
no assunto. Seu livro Harvest of Sorrow, publicado em 1986, é uma versão
pseudo-acadêmica da história, tal como ela é contada pela extrema-direita da
Ucrânia, pretendendo que lutaram "contra Hitler e contra Stalin".
Se um banderista conseguia até mesmo se
esconder na própria União Soviética e até quase chegar a receber uma grande
condecoração militar, como vimos aqui, que dirá de Estados anticomunistas? Mas
não era apenas os Estados Unidos que abrigava os companheiros de Bandera. Além
de países como o Brasil e outros, um banderista podiam entrar sem muitas
dificuldades no Canadá, isto é, parte da Comunidade Britânica. Ele podia
permanecer até mesmo na Alemanha Ocidental, destino do próprio Stepan
Andriyovich Bandera! Se os banderistas trocaram o fuzil alemão pela caneta
americana, Bandera o fez pela alemã, passando a viver com uma nova identidade
desde que fora libertado em 1944 pelo regime nazista.
Esse privilégio de ingressar em países
capitalistas, como vimos, não era um privilégio exclusivo de fascistas
ucranianos, mas também de fascistas alemães. Além de Bandera e hordas de
criminosos de guerra, a Alemanha Ocidental recebeu o chefe de Bandera, o
"Lobo cinzento de Hitler", o General-Major Heinhard Gehlen. Lá ele
viveu até o fim dos seus dias, escreveu um livro que chegou a ser publicado em
português, "O serviço secreto". O espião nazista passou a atuar no
serviço secreto alemão ocidental e depois na Agência Central de
Inteligência(CIA), americana. Com o apoio dessa e recursos do Departamento de
Estado dos Estados Unidos, o nazista tornou-se diretor da Rádio Europa
Livre(Radio Svoboda), especializada em rádio-difusão anticomunista voltada para
a Europa Oriental. Essa rádio existe até hoje e pode ser sintonizada em
qualquer parte do mundo através de ondas curtas.
Os últimos dos moicanos
Como apresentado neste artigo, o próprio
Hitler admitia que os fascistas ucranianos estavam melhores equipados do que
muitas unidades alemãs. Muitos foram transportados da Alemanha até a Ucrânia
soviética, que então já havia sido libertada pelo Exército Vermelho. Embora o
combate do Exército Soviético e das forças americanas contra o Eixo tenham
encerrado em 1945, durante mais alguns anos continuaria a atuar em território
soviético a guerrilha nazista formada por remanescentes da OUN-UPA de Stepan
Bandera, ela se denominava "Conselho Supremo de Libertação da
Ucrânia".
O conselho decidiu que por razões de
segurança Stepan Bandera não deveria retornar à Ucrânia, deste modo, lideraria
a OUN(b) em território soviético o braço direito de Bandera, veterano do pogrom
antissemita e anticomunista de Lvov, remanecente do núcleo original da
organização, Roman Shuhyevich. Uma de suas atividades mais notáveis de
Shuhyevich foi um boicote às eleições na República Socialista Soviética da
Ucrânia em 1946. Nesse mesmo ano ele seria promovido a "General" do
Exército Insurrecional Ucraniano.
Dado que se tratava de uma ameaça
interna, o combate da guerrilha banderista coube ao NKVD, agora renomeado MVD,
isto é, o Ministério dos Assuntos Internos. Ao órgão cabia a perseguição aos
"últimos dos moicanos", responsáveis por atos diversionários contra o
poder soviético, por aterrorizar vilas de camponeses e tramar a derrubada do
Estado Soviético e a constituição de um regime nazista na Ucrânia.
Sob o comando de Roman Shuhyevich os
banderistas viriam o seu fim enquanto organização guerrilheira anticomunista. A
diretriz dada aos homens do MVD era para que capturassem, se possível, vivos,
os integrantes da organização de Stepan Bandera, a fim de que usassem-nos como
propaganda, mostrando a sua reintegração à sociedade soviética.
A organização de Bandera e de Shuhyevich
lançou ataques guerrilheiros nas regiões de Ternopolskiy, conhecida pela sua
minoria grega, Lvov e Ivano Frankvisk. Para agir livremente pelo território
soviético, Shuhyevich usou disfarces, por exemplo, documentos com uma foto
colada que o apresentavam como "Yaroslav Vassilyevich Polevskiy" ou
como "Maksim Stepanovich Orlovich". Seu esconderijo era desconhecido
pelos órgãos de segurança.
Em 1950, seria presa pelo MGB, órgão
subordinado ao MVD, a mensageira pessoal de Roman Shuhyevich, Darya Gusyak,
apelidada "Darka". Com a introdução de uma agente do MGB disfarçada
em sua cela, "Roza", ela confessou a participação na organização de
Shuhyevich e revelou o seu esconderijo, o que se confirmou verídico pela
investigação dirigida pelo espião comunista ucraniano Pavel Sudoplatov,
conforme suas Memórias.
Cercados pelas tropas
especiais(Spetsnaz) do MVD, Shuhyevich foi rendido em seu esconderijo. Conforme
as memórias de Sudoplatov, o General Drozdov, do MGB, exigiu que Shuhyevich
baixasse as suas armas, garantindo que seria poupada a sua vida. Em resposta,
ouviu-se uma rajada de fuzil, Shuhyevich, tentando abrir uma brecha no cerco,
atirou duas granadas de mão. Um disparo durante o tiroteio acabou com a vida de
Roman Shuhyevich, acabando assim com um dos principal líder nazista na Ucrânia,
depois de Bandera, que encontrava-se na Alemanha. Durante o tiroteio morreu
também o major ucraniano Revenko, do MGB. Para não dar grande repercussão ao
caso, nenhum dos participantes da missão foi condecorado. Em vez disso recebeu
os agradecimentos oficiais e um prêmio de 1000 rublos o sargento do MGB
Polischuk, pela neutralização de Roman Shuhyevich. Seu corpo foi levado para
reconhecimento pelo seu filho, uma mulher e um padre católico-grego. Seu corpo
foi cremado e suas cinzas jogadas para fora da Ucrânia.
Os remanescentes ativos da OUN-UPA
viriam o seu último combate nas montanhas dos Cárpatos, até serem presos ou
mortos em combate contra as tropas do MVD. Eles não tinham mais para onde
fugir, em 1950 a Tchecoeslováquia e todos os Estados em volta da Ucrânia
soviética eram Estados de orientação marxista e fervorosamente antifascistas.
Darka, mensageira de Shuhyevich, foi sentenciada a 25 anos de prisão, sendo
solta nos anos 70 e vivendo hoje na Ucrânia com seus 90 anos de idade, destino
esse que jamais seria conferido a um comunista nas mãos de banderistas.
A última
foto de Roman Shuhyevich, precisamente, de seu cadáver
|
Retrato
de Shuhyevich em uniforme nazista
|
O fim de Stepan Bandera
O líder do movimento nacionalista
ucraniano mais extremista vivia refugiado em Munique, na Alemanha Ocidental,
destino de muitos criminosos nazistas. Lá, com documentos falsos, ele se
apresentava como "Shtefan Popel" e dirigia as atividades da OUN(b) a
partir do exterior. A organização, após a destruição de sua guerrilha na União
Soviética, agora participava de influentes círculos ao redor do mundo.
Em 1958, em Rotterdã, reuniu-se toda a
direção da OUN para homenagear Yevheniy Konovalets, fundador da organização.
Dentre os participantes do evento, encontrava-se um certo jovem, admirador seu,
Hans Johann Budeit, em realidade, o agente do KGB Bohdan Stashinskiy, sua
missão - gravar a fisionomia de Stepan Bandera. Um julgamento realizado à
revelia, nos anos 50, condenou à morte o líder fascista ucraniano.
Nascido numa família de ucranianos
"nacionalistas", Bohdan era membro da OUN e foi detido pela Milícia
por ter furtado uma mala em 1950. Em 1951 foi recrutado pelo MGB. Uma de suas
primeiras missões consistiu em um ato contra a própria irmã, noiva de um
comandante de um destacamento armado de banderistas. Ele o conduziu até a
floresta, entregando-o ao serviço secreto.
De 1952 a 1954, Bohdan Stashinskiy foi
educado na língua alemã e polonesa em Kiev, depois disso sendo estabelecido na
Alemanha Oriental, onde passaria a trabalhar, oficialmente, como tradutor.
Com a queda do agente Pavel Sudoplatov,
após o fuzilamento de Lavrenti Beria, coube a Alexander Shelyepin, líder da
juventude comunista e agente do KGB organizar a missão de eliminação de Stepan
Bandera. Ele era conhecido pelo recrutamento de Zoya Kosmodemyanskaya9. Graças
a ele o feito da partizanka tornara-se conhecido por todo o país. Shelyepin
agora recrutara Stashinsky.
A primeira missão de Stashinsky paga por
Shelyepin consistia na eliminação de Lev Rebet, um dos líderes da OUN. Atuando
sob o disfarce de "Joseph Lehman", Stashinsky recebeu do KGB uma arma
completamente diferente. Tratava-se de uma "pistola" que mais parecia
uma caneta, para quem a via, todavia, ela não disparava projéteis, e sim um
spray de cianeto. A inoculação do spray fazia a vítima morrer em instantes e o
agente, para se proteger dos efeitos, tinha que ingerir imediatamente um
comprimido que o protegia dos efeitos do spray de cianeto. Deste modo,
acreditou-se inicialmente que Lev Rebet morreu de ataque cardíaco, isto é, de
morte natural.
Semelhante ao caso Rebet, Bandera veio a
ser executado com a mesma arma secreta de cianeto. Ele havia acado de chegar ao
edifício onde estava seu apartamento e dispensou os seus guarda-costas. Ao
chegar em frente ao seu apartamento, no 3º andar, ele viu o KGB Stashinsky
lendo um jornal, ao que perguntou: "o que você faz aqui?". Stashinsky
então baixou o seu jornal e puxou a manga da camisa, então disparou o jato de
veneno bem na cara de Bandera, retirando-se em seguida e ingerindo o
comprimido. Bandera caiu no chão ainda com vida, começando a sangrar. Os
vizinhos, ouvindo o barulho, ligaram pedindo ajuda. Socorrido ainda com vida,
ele morreu na maca, acabando com as intenções ocidentais de sublevação na
Ucrânia. Pela sua missão, Bohdan Stashinsky foi condecorado com a Ordem da
Bandeira Vermelha, por eliminar o Bandera rubro-negro.
Julgamento de Stepan Bandera na União Soviética, feito à revelia |
Na foto,
Stepan Bandera ao centro, o mais baixo de todos(tinha cerca de 1,50m, alguns
admiradores de suas ideias falam em 1,58)
|
Retrato de Stepan Bandera e reconstituição de seu assassinato |
Desenho
da arma secreta usada no assassínio de Bandera
|
Reabilitando um genocida
Nos anos do Estado soviético o
banderismo foi contido e combatido, mas não completamente destruído. Em
realidade, ao contrário do que pregam muitos propagandistas do anticomunismo,
na União Soviética alguém podia pensar de qualquer maneira, inclusive acreditar
no nazi-fascismo, o que era proibido era a propaganda dessas ideias. Isso
mudaria nos anos 80 com a glasnost.
Ao contrário do que alardeiam muitos
autores ocidentais e os próprios ideólogos da perestroyka e da glasnost, esta
última não era uma "transparência", mas sim um bombardeio ideológico,
uma guerra de propaganda empreendida com o objetivo de conseguir aquilo que
mais de 17 exércitos tentaram fazer nos anos da Guerra Civil Russa, que as
hordas hitlerianas não conseguiram, destruir a União Soviética à partir de
dentro. Numa entrevista a uma universidade na Turquia em meados do ano 2000,
Gorbatchov declarou que seu objetivo era a aniquilação do Estado soviético, o
que fizera com o apoio de sua mulher. Assim, durante a glasnost, criminosos de
guerra, inimigos do povo, eram agora declarados "vítimas do
stalinismo", tudo era válido em nome do "combate ao stalinismo",
inclusive a reabilitação de colaboradores de nazistas. Alexander Soljenitsyn,
que apresentou os detentos da OUN-UPA como "combatentes da
liberdade", durante uma rebelião carcerária ocorrida no Cazaquistão,
retornou à União Soviética. Grupos de oposição neofascistas tornaram-se fashion
como o jeans e o McDonalds na União Soviética em fins dos anos 80 e começo da
década de 90.
Com o fim da URSS e a declaração de independência
das repúblicas soviéticas, nasceu a nova Ucrânia, que adotava como cores
nacionais, simbologia e bandeira nacionais as mesmas adotadas pelos
banderistas. Mas apenas isso não bastava, as novas gerações eram agora educadas
nas escolas sobre a "luta pela independência da Ucrânia de Stepan
Bandera", canais de TV, agora pertencente a mafiosos oligarcas, exibiam
dia e noite sobre como o espião alemão "lutou pela Ucrânia livre". A
OUN-UPA renascia enquanto organização, produzindo inclusive filmes e amostras.
Emigrados ucranianos retornavam do exterior para agora dizer como os ucranianos
deveriam pensar e agir.
Mas não era necessário apenas falar de
um "herói", era necessário mostrar contra o quê lutou esse
"herói", um mito fundacional que justificasse a existência da Ucrânia
e não fazê-la parecer um "Estado artificial", daí a "fome
genocida" passou a ser denominada "Holodomor", o
"holocausto ucraniano", avatar do anticomunismo. Então assim
definia-se a nova ideologia, "se os soviéticos eram ruins e assassinos,
logo os banderistas seriam bons e justos". Stepan Mazepa, um cossaco que
traiu o seu povo em nome do Império Sueco e do Império Turco, também era
apresentado agora como herói, e Bohdan Hmelnitsky, que dirigira a luta contra
os poloneses e defendera o tzar, era tido como um "herói que foi
enganado".
Com a eclosão das "revoluções
coloridas", no início da década de 2000, foram instalados governos
pró-Washington em várias ex-repúblicas soviéticas, a primeira delas a Geórgia.
Na Ucrânia não foi diferente, em 2004 eclodiu a Revolução Laranja, em realidade
um movimento contra a posse de Viktor Yanukovich, eleito por maioria de votos,
em favor de Viktor Yuschenko, que prometia a entrada do país na União Europeia
e na OTAN, a exemplo do que se sucedera a países do antigo Pacto de Varsóvia.
Colocado no, Yuschenko não hesitou em enviar tropas da Ucrânia para a Guerra do
Iraque e do Afeganistão, para o lado das tropas americanas.
Uma das mais notáveis medidas do governo
de Yuschenko, o que contou com a reprovação de aliados políticos seus
inclusive, foi a reabilitação em caráter oficial de Stepan Bandera e Roman
Shuhyevich. Agora eles eram não apenas fantasmas do passado, mas "Heróis
da Ucrânia", o mais alto título dignatário conferido a colaboradores de
nazistas e carrascos.
O título viria a ser cancelado durante o
governo de Viktor Yanukovich.
Ucraniana
carrega o retrato de Bandera adiante dos manifestantes da Maydan, nos protestos
de 2014
|
Culto da
personalidade de Bandera em prédio público na Ucrânia. Percebe-se uma pichação
da runa Das Reich, considerada de suma importância pelos nazistas
|
O legado de Stepan Bandera
Quando se fala de um dado personagem
histórico, há que se verificar o seu legado para o seu país e para a
humanidade. Napoleão Bonaparte tinha ambições imperialistas, sonhava com seu
projeto de senhoria do mundo, iniciou uma grande guerra, se tornando um vilão
para muitos. Todavia o projeto napoleônico teve o seu lado positivo, não apenas
ajudou a difundir as ideias iluministas da Revolução Francesa, como também uma
avançada legislação trabalhista. Alguém pode vociferar histericamente contra o
bolchevismo, mas há que reconhecer que ele criou um eficiente sistema educacional
que em tempo recorde acabou com o analfabetismo, industrializou um país em
tempo recorde, instituiu o sufrágio universal, onde todos votavam, fossem
minorias nacionais ou mulheres, e criou uma avançadíssima legislação
antirracista, além de diversos feitios científicos como o primeiro homem no
espaço. O mesmo pode ser dito sobre Getúlio Vargas, no Brasil, que reprimiu os
trabalhadores e permitiu as mais bárbaras torturas10, mas por outro lado
contribuiu para a modernização e integração do Brasil, combateu o Eixo e criou
uma importante legislação trabalhista. Mas e Stepan Bandera, ele deixou algum
legado positivo?
Quando os bolcheviques chegaram ao
poder, seus primeiros decretos foram sobre o pão, a paz e a terra. Quando os
banderistas chegaram ao poder, seus primeiros decretos foram sobre o extermínio
de judeus e de outras minorias nacionais, incluindo camponeses inocentes sem
qualquer participação na luta revolucionário. Sua primeira declaração foi uma
ode a Adolf Hitler, ao tirano austríaco que pintou com sangue, ossos e gás o
retrato do III Reich.
O banderismo usou-se de métodos de
sadismo desconhecido pela maioria dos exércitos e guerrilhas das nações
civilizadas, métodos barbáricos comuns há centenas de anos. Não se trata de um
ideal solidificado sobre bases humanistas, mas de uma vertente extremada do
fascismo. O banderismo queimou cidadãos pacíficos vivos em Hatyn, fuzilou e
queimou civis vivos num sindicato em Odessa, nos dias atuais. O banderismo, na
Ucrânia e fora dela, influencia desde os liberais(incluindo algumas vertentes
de movimentos feministas como o FEMEN e o pós-moderno LGBT) aos neonazistas sem
máscaras, sendo praticamente um ponto comum à direita daquele país. Em nada fez
a nação ucraniana avançar no plano social ou econômico. Agora, ele produz
agitações na Ucrânia, extermina mulheres e crianças com foguetes disparados
contra zonas civis na República da Novorrússia, ameaça um conflito com a
Crimeia e, sem exageros, mesmo ameaça o surgimento de uma nova guerra mundial!
Bandera não era um líder do porte de
Washington, Tiradentes ou Lenin que viveram dentre os seus povos e visavam
mudar suas realidades, ele sequer vivera na Ucrânia que tanto dizia defender,
sua vida era restrita à Galícia, um pequeno pedaço do oeste do país, mas queria
ensinar a todos os ucranianos como deveriam viver e como pensar. O banderismo
deixou algum legado positivo para a Ucrânia ou para o mundo? A resposta a essa
pergunta é não! Ele não apenas reconduziu nazistas ao poder, como deixou uma
mancha na história do povo que descende da "Rússia de Kiev", uma
mancha pintada com as cores do racismo, do sadismo e do genocídio.
Notas de
rodapé:
1- A
Igreja greco-católica ucraniana(por vezes chamada de católico-ortodoxa) é um
cisma da Igreja ortodoxa ocorrido em virtude do controle das zonas ocidentais
do país. Diferente das igrejas ortodoxas tradicionais, os greco-católicos
adotam ritos similares aos dos ortodoxos, mas aceitam a supremacia do papa
romano. Assim como na ortodoxia, os padres(presbíteros) podem se casar. São
também chamados genericamente de "católicos orientais".
2-
SUDOPLATOV, Pavel. Special Tasks: The Memoirs of an Unwanted Witness, a Soviet
Spymaster, pages 23-24 . Acesso em 27/05/14 às 20:40.
3- The
Nizkor Project. O julgamento dos maiores criminosos de guerra alemães.
Depoimentos do Tribunal de Nurembergue. Disponível em:
http://www.nizkor.org/hweb/imt/tgmwc/tgmwc-06/tgmwc-06-56-12.html . Acesso em
01/06/14 às 23:30.
4- Hatyn
sozhgli boytsy UPA - ucheniki Stepana Bandery. Disponível em:
http://versia.ru/articles/2014/mar/22/khatyn_stepan_bandera . Acesso em
02/06/14 às 15:30.
5-
Durante a Era Soviética evitava-se qualquer conflito com os povos integrantes
da federação. No filme sobre o mítico herói Ilya Muromets, por exemplo, que
combateu os invasores tártaros de Kiev, fala-se nos fictícios invasores
"tugares" asiáticos. Evitou-se também um filme sobre o personagem da
literatura russa Taras Bulba, a fim de evitar confrontos políticos com os
poloneses, que então sediavam o Pacto de Varsóvia.
6-
Zverstvo v Hatyni. Chih ruk delo?(Selvageria em Hatyn. De que mãos é a
autoria?) Matéria do jornal Komsomolskaya Pravda. Disponível em: http://www.kp.ru/daily/26203.4/3089116/
Acesso em 02/06/14 às 16:42.
7-
"Pure Soldiers or Bloodthirsty Murderers?: The Ukrainian 14th Waffen-SS
Galicia Division" por Sol Littman, página 78, nota de rodapé 38 e
"Galicia Division: The Waffen-SS 14th Grenadier Division 1943 - 1945"
por Michael O. Logusz, página 463, notas de rodapé 34.
8- "The Waffen-SS: Hitler's Elite Guard at
War 1939-1945" por George H. Stein, páginas 194-195.
9- Zoya
Kosmodemyanskaya: Jovem comunista de apenas 19 anos que fugiu de casa
secretamente para combater os alemães. Traída por um companheiro capturado, ela
foi chicoteada, teve seu corpo queimado e foi levada nua à neve invernal, sem
no entanto entregar os companheiros. Por isso foi enforcada e esquartejada
pelos nazistas, o que lhe garantiu o título de Herói da União Soviética, post
mortem.
10- É
registrado que no Brasil que o alemão Arthur Ewert, comunista, teve um arame em
brasa inserido na sua uretra. O grau de torturas sofrido o levou à loucura.
Fontes
de consulta:
- United
States Holocaust Memorial Museum. Disponível em: http://www.ushmm.org/
-
IVISSIN(Instituto e Iniciativa de Investigação Política). The Bandera Militia
and Lviv pogroms of 1941. Disponível em em:
http://www.invissin.ru/topics/ukrain_en/the_bandera_militia_and_lviv_pogroms_of_1941/
- Jornal
Versiya. Disponível em Versiya.ru . Acesso em 02/06/14 às 15:30
- Página
do Instituto de História da Ucrânia da Academia de Ciências Ucranianas.
Disponível em: http://www.history.org.ua/ . Acesso em 03/06/14 às 21:23.
- A
fascist hero in democratic Kiev(Um herói fascista na Kiev democrática). Artigo
de Timothy Snyder em The New York Review of Books. Disponível em:
http://www.nybooks.com/blogs/nyrblog/2010/feb/24/a-fascist-hero-in-democratic-kiev/
Acesso em 03/06/14 às 21:30.
-
MARTENS, Ludo. Stalin, um novo olhar. Tradução Pedro Castro e Pedro Castilho.
Rio de Janeiro. Revan, 2003.
- URSS.
Academia de Ciências da URSS. A história da URSS: Período socialista,
1917-1957. Tradução de João Alves dos Santos. Editora Grijalbo Ltda. São Paulo,
1960.
- The
Global discussion. Disponível em:
http://globaldiscussion.net/topic/5660-anonymous-operations-expose-ukrainian-bandera-nazis/
Acesso em 05/06/14 às 20:13.
-
WENDEL, Marcus. Axis History. Site sobre a história do Eixo. Disponível em:
http://www.axishistory.com/axis-nations/1295-14-waffen-grenadier-division-der-ss-ukrainische-nr-1
Acesso em 03/06/14 às 21:30.
-
PODKOVA, Klim.Kak likvidirovali Banderu(Como liquidaram Bandera). Artigo sobre
a morte de Stepan Bandera. Disponível em:
http://topwar.ru/35140-kak-likvidirovali-banderu.html . Acesso em 07/06/14 às
19:30.
-
SHAPOVAL, Iuri. Has the final mistery of the UPA been solved?(O mistério final
do UPA foi resolvido?). Artigo sobre a morte de Roman Shuhyevich. Disponível em
http://www.day.kiev.ua/en/article/history-and-i/has-final-mystery-upa-been-solved
Acesso em 03/06/14 às 19:00.
Fonte principal: http://apaginavermelha.blogspot.com.br/2014/06/crise-ucraniana-os-crimes-de-stepan.html