Por: Elenilton da
Cunha Galvão
Dilma Rousseff, então
ministra da Casa Civil do governo Lula,respondedo ao senador José Agripino Maia (DEM-RN), em audiência
realizada em 7 de maio de 2008 pela Comissão de Infraestrutura do Senado,
proferiu um dos mais memoráveis discursos demonstrando do que se tratou
realmente a ditadura militar. Essas palavras são formidáveis e de uma lucidez e
propriedade impressionante:
“Qualquer comparação entre a ditadura
militar e a democracia brasileira, só pode partir de quem não dá valor à
democracia brasileira.
Eu tinha 19 anos, fiquei três anos na
cadeia e fui barbaramente torturada, senador. E qualquer pessoa que ousar dizer
a verdade para os seus interrogadores, compromete a vida dos seus iguais e
entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido senador,
porque mentir na tortura não é fácil. Agora, na democracia se fala a verdade,
diante da tortura, quem tem coragem, dignidade, fala mentira. E isso (aplausos)
e isso, senador, faz parte e integra a minha biografia, que eu tenho imenso
orgulho, e eu não estou falando de heróis.
Feliz do povo que não tem heróis desse
tipo, senador, porque agüentar a tortura é algo dificílimo, porque todos nós
somos muito frágeis, todos nós. Nós somos humanos, temos dor, e a sedução, a
tentação de falar o que ocorreu e dizer a verdade é muito grande senador, a dor
é insuportável, o senhor não imagina quanto é insuportável. Então, eu me
orgulho de ter mentido, eu me orgulho imensamente de ter mentido, porque eu
salvei companheiros, da mesma tortura e da morte.
Não tenho nenhum compromisso com a
ditadura em termos de dizer a verdade. Eu estava num campo e eles estavam
noutro e o que estava em questão era a minha vida e a de meus companheiros. E
esse país, que transitou por tudo isso que transitou, que construiu a
democracia, que permite que hoje eu esteja aqui, que permite que eu fale com os
senhores, não tem a menor similaridade, esse diálogo aqui é o diálogo
democrático. A oposição pode me fazer perguntas, eu vou poder responder, nós
estamos em igualdade de condições humanas, materiais.
Nós não estamos num diálogo entre o meu
pescoço e a forca, senador. Eu estou aqui num diálogo democrático, civilizado,
e por isso eu acredito e respeito esse momento. Por isso, todas as vezes eu já
vim aqui nessa comissão antes. Então, eu começo a minha fala dizendo isso,
porque isso é o resgate desse processo que ocorreu no Brasil. Vou repetir mais
uma vez:
Não há espaço para a verdade, e é isso que
mata na ditadura. O que mata na ditadura é que não há espaço para a verdade porque
não há espaço para a vida, senador. Porque algumas verdades, até as mais
banais, podem conduzir à morte. É só errarem a mão no seu interrogatório.
E eu acredito, senador, que nós estávamos
em momentos diversos da nossa vida em 70.
Eu asseguro pro senhor, eu tinha entre 19
e 21 anos e, de fato, eu combati a ditadura militar, e disso eu tenho imenso
orgulho.”